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Como surgem as dependências? - O Sistema de Recompensa

Era o ano de 1953 e o pesquisador americano James Olds tentava testar uma região do sistema nervoso de ratos chamada “formação reticular” cuja estimulação deveria ser aversiva, ou seja, causar desagrado aos animais, que passariam a evitar o estímulo. Quando Olds foi fazer o experimento, a surpresa: O rato “queria repetir” o estímulo!

Explicando melhor, existia uma mesa em que um dos cantos fazia com que fosse ativada uma estrutura no cérebro dos roedores, por meio de uma descarga elétrica de um eletrodo que havia sido implantado, e se desejava testar se isso seria aversivo ou não para ele. Se fosse, ele passaria a evitar o canto, se fosse indiferente, passaria por ali da mesma forma que no resto da mesa, e a surpresa foi que o rato passou a voltar sempre ao local em que a área recebia a descarga elétrica.

Olds foi observar o que aconteceu e descobriu que errou o local em que os eletrodos deveriam ser implantados, ficando numa área próxima do hipotálamo. Diante disso, passou a se dedicar a “repetir o erro” e junto com outro pesquisador, chamado Peter Milner, desenvolveu um experimento em que o animal apertaria uma alavanca que liberaria o estímulo.

Sem nenhum estímulo, pela forma do experimento, o animal apertava a alavanca já por volta de 60 vezes em dez minutos. A surpresa é que com o estímulo o animal apertou a alavanca cerca de mil vezes em dez minutos, ou seja, o tempo todo!

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Observando melhor o que primeiro parecia um erro, os pesquisadores descobriram se tratar do “feixe prosencefálico medial” que se descobriu ser parte do chamado “sistema de recompensa”, que inclui outras áreas do cérebro. A parte interessante é que a ativação dessa área foi suficiente para o rato apertar uma alavanca cem vezes por minuto, e como devia ser necessário um estímulo bem importante, o experimento ganhou o nome de caixa do prazer. Desde então, o estudo dos vícios e prazeres sempre inclui o sistema de recompensa cerebral.

Quase tudo o que causa prazer, e isso inclui praticamente todas as drogas de abuso, gera ativação desse sistema, que faz querer mais, e mais, e mais… Agora, uma coisa é sexo, um filme gostoso com pipoca e alguém especial, comprar alguma coisa que você quer muito ou comer um doce gostoso. Esses prazeres são mais ou menos iguais em intensidade conforme você os repete. Quando uma pessoa usa álcool, maconha, cocaína, heroína ou outras substâncias, o que acontece é que o sistema de recompensa é “inundado” por uma substância chamada dopamina, que o ativa de uma forma muito intensa e faz com que a pessoa experimente uma sensação de euforia, de prazer muito intenso, que acaba causando a repetição do ato, ou seja, um cigarro a mais, uma garrafa a mais, uma cápsula a mais.

Acontece então mais ou menos como a instalação elétrica de uma casa numa sobrecarga. O sistema se defende, a chave do circuito cai, e a instalação fica inativa. No caso do cérebro, os receptores da dopamina são recolhidos e passa a ser necessária uma quantidade maior de substância para proporcionar o mesmo grau de prazer, e a pessoa se torna cada vez mais um refém da droga, num processo que chamamos de dependência, no qual o indivíduo passa a usar quantidades cada vez maiores de uma substância, fazendo esforços cada vez maiores para obtê-la, com ela ocupando cada vez mais o espaço do trabalho, do lazer, da família, da comida, do animal de estimação, tendo cada vez mais dificuldade em deixar de usa-la, sentindo forte necessidade de uso e dificuldade para resistir ao impulso de parar. Além da questão da necessidade da substância, o sistema também é ativado com menor intensidade por quase qualquer coisa, ou seja, aos poucos, as coisas que davam prazer antes já não são tão boas, e a droga se torna um refúgio único.

É mais ou menos por conta desse sistema, ao menos na parte biológica da explicação, que tem obviamente muitos outros lados, que vemos hoje tanta gente dependente de drogas na rua ou no telejornal, parecendo uma multidão que busca doses cada vez maiores de um prazer temporário, perigoso e que na verdade vai tornar aquele chocolate menos gostoso, o filme menos atrativo, o sexo sem graça, e o mundo cada vez mais bagunçado.

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