top of page

Sono e saúde mental: por que dormir mal afeta tanto o humor

  • Foto do escritor: Alexandre Donizeti dos Reis Cintra
    Alexandre Donizeti dos Reis Cintra
  • há 1 dia
  • 3 min de leitura

Atualizado: há 16 horas

Dormir mal não afeta apenas o nível de energia ao longo do dia. O sono tem um papel central na regulação do humor, das emoções e da forma como lidamos com o estresse. Quando ele falha, o impacto não se limita ao cansaço físico. A saúde mental costuma ser uma das primeiras áreas a sofrer.


Pessoa dormindo com o celular ao lado.

Durante o sono, o cérebro não “desliga”. Pelo contrário, ele realiza uma série de processos fundamentais para o equilíbrio emocional. É nesse período que ocorre a consolidação da memória, a organização das experiências vividas e a modulação de circuitos cerebrais ligados às emoções. Dormir bem permite que o cérebro processe o dia anterior e se prepare para o seguinte de maneira mais estável (Tempesta, D. et al, 2018; Tomasco et al, 2021).


Quando o sono é insuficiente ou fragmentado, esse processo fica comprometido. A consequência mais imediata costuma ser a irritabilidade. Situações simples passam a provocar reações desproporcionais, a paciência diminui e a tolerância às frustrações cai de forma significativa. Isso acontece porque áreas do cérebro responsáveis pelo controle emocional passam a funcionar de maneira menos eficiente (Whiting et al, 2023).


Além disso, dormir mal aumenta a reatividade emocional. Emoções negativas tendem a ser sentidas com mais intensidade, enquanto a capacidade de experimentar prazer e bem-estar diminui. Esse desequilíbrio ajuda a explicar por que noites mal dormidas estão associadas a piora do humor, aumento da ansiedade e maior vulnerabilidade a pensamentos negativos (Tomaso et al, 2021).


A relação entre sono e saúde mental é bidirecional (Plante, 2021; Alvaro et al, 2013). Transtornos como ansiedade e depressão frequentemente afetam o sono, mas o inverso também é verdadeiro. Alterações persistentes no padrão de sono podem contribuir para o desenvolvimento ou agravamento desses quadros. Em muitos casos, a dificuldade para dormir é um dos primeiros sinais de que algo não está bem emocionalmente.


O sono também influencia a forma como lidamos com o estresse. Quando dormimos pouco, o organismo permanece em um estado de alerta mais elevado, com maior liberação de hormônios relacionados ao estresse (Minkel et al, 2014). Isso torna o dia seguinte mais pesado, aumenta a sensação de sobrecarga e reduz a capacidade de adaptação às demandas cotidianas.


Outro aspecto importante é o impacto do sono na clareza mental (Lowe et al, 2017). A privação de sono prejudica a concentração, a tomada de decisões e a memória. Essa dificuldade cognitiva costuma gerar mais frustração e insegurança, alimentando um ciclo no qual o mau humor e o estresse acabam dificultando ainda mais o descanso noturno.


Por isso, cuidar do sono não é um detalhe secundário no tratamento da saúde mental. Muitas vezes, melhorar o padrão de sono já produz um efeito significativo sobre o humor, a ansiedade e a disposição emocional. Em outros casos, o sono só melhora quando o transtorno emocional de base é tratado adequadamente.


Entender por que dormir mal afeta tanto o humor ajuda a tirar o sono do lugar de algo “opcional” e colocá-lo como parte essencial do cuidado emocional. Dormir bem não é luxo nem perda de tempo. É uma das bases mais importantes para o equilíbrio psíquico e para uma vida emocionalmente mais estável.


Referências Bibliográficas:


Alvaro, P. K., Roberts, R. M., & Harris, J. K. (2013). A systematic review assessing bidirectionality between sleep disturbances, anxiety, and depression. Sleep, 36(7), 1059–1068.


Lowe, C. J., Safati, A., & Hall, P. A. (2017). The neurocognitive consequences of sleep restriction: A meta-analytic review. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, 80, 586–604.


Minkel, J., Moreta, M., Muto, J., Htaik, O., Jones, C., Basner, M., & Dinges, D. (2014). Sleep deprivation potentiates HPA axis stress reactivity in healthy adults. Health Psychology, 33(11), 1430–1434.


Plante, D. T. (2021). The evolving nexus of sleep and depression. American Journal of Psychiatry, 178(10), 896–902.


Tempesta, D., Socci, V., De Gennaro, L., & Ferrara, M. (2018). Sleep and emotional processing. Sleep Medicine Reviews, 40, 183–195.


Tomaso, C. C., Johnson, A. B., & Nelson, T. D. (2021). The effect of sleep deprivation and restriction on mood, emotion, and emotion regulation: Three meta-analyses in one. Sleep, 44(6), Article zsaa289.


Whiting, C., Bellaert, N., Deveney, C., & Tseng, W.-L. (2023). Associations between sleep quality and irritability: Testing the mediating role of emotion regulation. Personality and Individual Differences, 213, Article 112321.

 
 
 

Comentários


Featured Posts
Recent Posts

Dr. Alexandre Donizeti dos Reis Cintra - CRM: 139.224-SP

Psiquiatra [RQE: 39418]

Alameda Santos, 211 - Cj. 1709 - Cerqueira Cesar - São Paulo - SP

Tel: (11) 3628-3915 WhatsApp: (11) 99920-8895

instagram.png
facebook.png
Copy of Copy of Tire suas dúvidas ou age
youtube.png
bottom of page